Mudanças Climáticas na Amazônia: Desafios para Economia e Saúde

Autor: Daniel Barros Fagundes, coordenador dos cursos de Saúde da Faculdade Santa Teresa

As mudanças climáticas emergem como um dos dilemas mais urgentes e complexos enfrentados pela humanidade no século XXI. Com impactos globais, elas transcendem fronteiras geográficas e afetam todos os aspectos de nossa vida. Dentro desse contexto, a Amazônia, considerada o coração verde da Terra, enfrenta desafios ainda mais iminentes devido à sua riqueza ecológica única e à interação delicada entre seus ecossistemas e as atividades humanas.

As mudanças climáticas, em sua essência, se referem às alterações nos padrões climáticos ao longo do tempo. Elas são resultado de múltiplos fatores, que incluem causas naturais e a influência humana (antrópica). As causas naturais, como variações na atividade solar e ciclos oceânicos como o El Niño, têm desempenhado um papel importante ao longo da história da Terra, modificando o clima de forma imperativa. No entanto, é inegável que as atividades antrópicas tem atuado de maneira mais proeminente desde o século passado, acelerando os efeitos das mudanças climáticas naturais.

Essa ação humana impulsionada pelo desenvolvimento econômico, embora tenha trazido benefícios, trouxe também a queima de combustíveis fósseis, os incêndios florestais não naturais, o desmatamento, a pecuária e a industrialização, que tem resultado na emissão diária de grandes quantidades de gases de efeito estufa. Até certo ponto, o acúmulo desses gases na atmosfera é importante e auxilia na manutenção da vida em nosso planeta, porém, em quantidades acima das normais provoca mudanças nas temperaturas, alterando o clima ao longo do globo. Isto faz com que ocorram, por exemplo, chuvas torrenciais, secas severas, frio intenso, tornados e furacões em locais onde essas intempéries eram raras ou inexistentes.

Essas alterações climáticas, potencializadas pela ação antrópica já começam a ser percebidas nos dias atuais e trarão consequências ainda mais graves a médio e longo prazo. O aumento do período ou da intensidade de secas na Amazônia, por exemplo, dificultará o tráfego de grandes embarcações, impossibilitando o transporte de pacientes em busca de tratamentos de saúde especializados na capital e a comercialização de alimentos entre a capital e as cidades e comunidades do interior. Isto elevará os custos de vida e saúde pública destas populações. Em decorrência, migrações familiares em busca de melhores oportunidades na capital tenderá a aumentar, pressionando ainda mais os recursos urbanos e aumentando a vulnerabilidade social, que impactam negativamente na saúde e qualidade de vida dos indivíduos.

Outros fatores relacionados às mudanças climáticas que influenciam diretamente a saúde da população local são: (1) os incêndios florestais descontrolados, que além de contribuírem para o agravamento do efeito estufa e aquecimento do global, pioram a qualidade do ar respirável. A fumaça resultante desses incêndios, carregada de partículas finas e poluentes tóxicos, provoca um aumentando na incidência de doenças respiratórias e a longo prazo, o desenvolvimento ou agravamento de doenças cardiovasculares; (2) a amplificação das temperaturas e a expansão dos períodos de calor extremo que intensificam o risco de insolação, exaustão pelo calor e desidratação, especialmente para as populações mais vulneráveis, como idosos e crianças; (3) e o aumento na propagação de doenças transmitidas por vetores, como malária, dengue, chikungunya e zika, que encontram terreno fértil nas condições climáticas mais quentes e úmidas, aumentando o risco de surtos e epidemias que desafiam os sistemas de saúde da região.

Frente a esse cenário complexo, é imperativo adotar uma abordagem abrangente e colaborativa. Ações internacionais para reduzir as emissões de gases de efeito estufa são fundamentais. Mas também é crucial que os governos locais e as comunidades amazônicas estejam envolvidos na busca de soluções adaptativas e de mitigação. A conservação da Amazônia, o uso sustentável de seus recursos e a promoção de práticas econômicas conscientes do clima são passos essenciais. As mudanças climáticas na Amazônia não são apenas uma preocupação regional, mas um reflexo de um desafio global. Precisamos reconhecer a interconexão entre o meio ambiente, a economia e a saúde humana, e trabalhar juntos para enfrentar essa crise iminente. O futuro da Amazônia, e de nosso planeta como um todo, depende das ações que tomamos hoje.