Dicas sobre como novos empreendedores de moda podem criar um design inovador, integrando a diversidade cultural e ambiental da Amazônia

Autor: Cidarta Gautama de Souza Melo, designer de Moda, Licenciado em Artes Visuais e Mestre em Engenharia, Gestão processos e ambiental e coordenador do curso Design de Moda da Faculdade Santa Teresa.

A Amazônia é um tesouro de recursos naturais e, por isso mesmo, a moda sustentável e a economia criativa na região apresentam-se como campo promissor para novos empreendedores. Considerando a rica biodiversidade, os recursos naturais e culturais, novos empreendedores podem aproveitar a variedade de materiais sustentáveis disponíveis na região.

Embora sejam inúmeras as oportunidades, é indispensável o uso de meios e técnicas que primem pela uso sustentável de recursos, mão de obra e descarte, para que o setor econômico se torne equilibrado pela premissa ambiental e social.

No mercado de moda, por exemplo, quase sempre associado ao mercado de luxo, que se caracteriza pelo desejo de consumidores por grandes marcas, tem sido notado um certo redirecionamento para o desenvolvimento de produtos que atendam aos anseios de novos clientes mais conscientes. Embora ainda parte de uma sociedade demandante de altíssimo consumo, são clientes que já possuem uma alta capacidade crítica e direcionamento ético e moral, em relação às questões de responsabilidade social e ambiental das marcas que produzem moda, especialmente no que se refere a Amazônia.

Olhando para este contexto, nota-se que uma das oportunidades para novos empreendedores de moda e economia criativa, pode ser a aposta no design inovador para os seus produtos.

Criar um design inovador, que integre a rica diversidade cultural e ambiental da Amazônia em produtos de moda, requer uma abordagem sensível, criativa e colaborativa. Assim, pode-se definir alguns passos para nortear um novo empreendedor de moda:

Dica 1: Pesquisa e imersão cultural
Como em todo processo metodológico de criação em design, o primeiro passo trata-se da pesquisa. A pesquisa é a parte fundamental e norteadora para a criação. Assim, um caminho seguro é realizar uma pesquisa aprofundada sobre as culturas, tradições, artesanato, padrões, cores e elementos simbólicos das comunidades locais da Amazônia. Visite as comunidades, converse com os moradores e mergulhe na atmosfera local para compreender a essência cultural.

Dica 2: Inspiração
Aperfeiçoe o seu olhar para a riqueza iconográfica e estética da biodiversidade da Amazônia, inspirando-se nas formas, cores e padrões únicos encontrados na flora e fauna local, e os converta em elementos inspiracionais para criar estampas, texturas e formas distintas por exemplo.

Dica 3: Estabeleça um Conceito
Crie em história significativa e certifique-se de abordar as influências culturais com respeito e sensibilidade. Evite apropriação cultural e busque permissão ou colaboração com as comunidades antes de incorporar elementos culturais em seus produtos. Crie produtos que contem histórias autênticas e significativas. Comunique aos consumidores a importância cultural, ambiental e social dos elementos incorporados em suas peças.

Dica 4: Busque parcerias locais
Busque parcerias com artistas, artesãos e designers locais que estejam conectados às tradições da região. Eles podem fornecer insights valiosos e contribuir com suas habilidades para criar produtos autênticos. Além disso você fazendo isso, gera impacto positivo para as comunidades, artesãos, artistas e outros colaboradores dentro do seu projeto criativo.

Dica 5: Valorize o artesanal
Explore as técnicas de artesanato tradicionais, como bordados, tecelagem, tingimento natural, cestaria e outros métodos únicos utilizados pelas comunidades locais. Adaptar essas técnicas em produtos contemporâneos pode gerar designs inovadores.

Dica 6: Misture elementos tradicionais, modernos
Fuja do caricato. Você pode e deve utilizar os elementos folclóricos da Amazônia, mas não se limite apenas a isto. Busque um equilíbrio entre elementos tradicionais e contemporâneos para criar um ar de sofisticação e de bom gosto para os seus produtos. A inovação muitas vezes surge da combinação de elementos antigos com abordagens modernas de design.

Dica 7: Respeite o meio ambiente
Alinhe seu design inovador com práticas sustentáveis. Neste sentido, é válido apostar em ressignificação de materiais e explorar o upcycling, bem como a adoção de processos de produção de baixo impacto ambiental. Mas, atenção neste momento, e esteja sempre aberto à experimentação e interação com outras áreas do design além da moda. Teste diferentes combinações de elementos culturais, cores e técnicas até encontrar um design que seja autêntico e atraente, que seja capaz de traduzir o conceito e manter a sua identidade de marca.

Dica 8: Apresente de forma criativa ao público de interesse
Procure por eventos e profissionais que estão despontando no setor de moda sustentável na sua região, que valorizam o tipo de trabalho que você está desenvolvendo. Se for apresentar seus produtos em mídias digitais, considere usar storytelling visual, como fotografias e vídeos, que destaquem a inspiração da Amazônia, os processos de produção e as histórias por trás de cada peças, assim você gera interesse não apenas para sua marca, mas para a mensagem que a sua marca e produtos desejam imbuir aos consumidores.

Dica 10: Feedback e aprendizado contínuo
Esteja aberto ao feedback dos consumidores, colegas e especialistas. Aprenda e ajuste seus designs com base nas respostas recebidas. Um bom design não é aquele que o designer elege, mas sim aquele que o cliente perece valor. Neste caso, o valor não está somente na estética, no requinte, sofisticação ou beleza, mas no sentido e no propósito de valorização socioambiental intrínseca em cada detalhe do processo de criação, produção, venda e descarte do seu produto de moda.

Com base nestas dicas, espero que você, novo empreendedor de moda local, possa ter um direcionamento sobre como criar produtos com design inovador, sem perder o foco na identidade Amazônica e na valorização e respeito ao meio ambiente e das comunidades tradicionais.

Por fim, desejo sucesso a você que tem coragem de empreender e aceitou o desafio de ser o designer que a Amazônia precisa ter.